quarta-feira, 10 de março de 2010

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terça-feira, 9 de março de 2010

Epilepsia na escola

Para um professor, uma crise epiléptica de um aluno pode ser um episódio estranho e até mesmo assustador quando não se sabe como reagir. Assim, é de extrema importância que os professores saibam o que fazer antes, durante e após a crise.
Em primeiro lugar, quando há na turma um aluno com epilepsia, os professores devem manter-se em contacto com a família, normalmente através do Director de Turma. Na maioria dos casos, os pais já estão habituados a lidar com as crises do filho e podem indicar a melhor forma de agir caso aconteça uma crise. Por outro, o próprio tipo de crise deve ser descrito pelos pais aos professores, já que é importante que se saiba como costumam ocorrer, para ser possível a detecção de eventuais alterações na forma como se desenrola a crise epiléptica.
De uma maneira geral, os próprios alunos são capazes de descrever como são as suas crises e indicar ao professor como deve agir, caso aconteçam, principalmente quando falamos de alunos do 3º Ciclo e do Secundário, como é o caso dos alunos da Escola Secundária de Miraflores.
Não é só o professor que deve estar preparado para a ocorrência de crises: os colegas de turma devem ser informados da situação, já que algumas crises podem ser assustadoras para os colegas que são apanhados desprevenidos. Assim, recomenda-se que no início do ano lectivo o professor se dirija à turma no sentido de a esclarecer quanto a este assunto. Se se sentir suficientemente à vontade, até é preferível que seja o aluno com epilepsia a esclarecer os colegas quando à sua condição.
Então, que fazer durante uma crise?
Há três pontos importantes dos quais o professor se deve lembrar aquando da ocorrência de uma crise num dos seus alunos: é importante que saiba reconhecer o tipo de crise, que saiba descrever a crise e que saiba actuar.
A resposta que um professor deve ter perante uma crise depende do tipo de crise.
Em crises parciais, não há perda de consciência por parte do aluno. As crises parciais simples manifestam-se através de movimentos involuntários e repetitivos de apenas uma parte do corpo, como a face ou uma mão. Não há nada que possa ser feito neste tipo de crise, sendo que, normalmente, o aluno não precisará de ajuda. Por outro lado, as crises parciais complexas geralmente necessitam de intervenção por parte do professor. Um aluno que esteja a ter uma destas crises pode ficar confuso (embora consciente) e levantar-se, andar, sair da sala, abotoar e desabotoar a camisa, repetir movimentos estereotipados, fechar e abrir gavetas. Como mantém a consciência durante a crise, esta pode ser uma experiência aterrorizadora para que a sofre. Deste modo, o professor deve manter a calma, procurar proteger a criança, ignorando possíveis automatismos e adoptando uma atitude tranquilizadora e compreensiva. Deve ser evitada confrontação ou contenção física, contudo, o professor deve assegurar que o aluno não sai da sala nem corre riscos.
Nas crises generalizadas existe perda de consciência. Um tipo pouco conhecido de crises epilépticas é a crise de ausência. Numa crise de ausência, o aluno parece distraído, não fala nem responde a perguntas ou conversas. Parece que “não está cá”, ou “está com a cabeça na lua”. Como há perda de consciência, o aluno não se lembra do que passou nos segundos em que durou a crise. Numa situação de sala de aula, a perda de consciência do aluno resulta na perda de partes do discurso do professor. E o pior é que o professor pode nem dar pela ocorrência da crise, confundindo-a com distracção, já que esta não tem manifestações físicas, a não ser a incapacidade do aluno de responder a qualquer estímulo. Assim, caso se saiba da existência de um aluno que costume ter crises deste tipo, o professor deve assegurar-se que a criança não perde os elementos-chave da aula, repetindo a matéria as vezes que forem necessárias. Além disto, não é precisa qualquer intervenção.
As crises tonico-clónicas são as mais conhecidas. Quando pensamos num ataque epiléptico, surge-nos logo a ideia de uma pessoa sem controlo dos movimentos do seu corpo, esbracejando e salivando. Isto é mais ou menos a descrição de uma crise tónico-clónica. Estas crises precisam de intervenção por parte do professor.
Em primeiro lugar, deve-se manter a calma. Entrar em pânico só vai fazer com que o resto da turma se assuste e no meio da confusão alguém pode ficar magoado. O aluno em crise deve ser protegido. Isso implica afastar cadeiras e mesas do sítio onde está o aluno e apoiar a sua cabeça, para que não bata no chão com os movimentos da crise. O aluno deve ser deitado de lado durante a crise e, para seu conforto, devem ser aliviadas as roupas que estejam apertadas e limpa a saliva. As crises podem durar alguns segundos ou até minutos, que, no meio da aflição, parecem muito tempo. Assim, o professor não se deve esquecer de tranquilizar o resto da turma, não deixando de acompanhar o aluno em crise até que ganhe consciência. Se for possível, até pode ser um aluno responsável a acompanhar o seu colega. Depois da crise terminar, é importante conversar com a criança afectada, quando esta acordar. Sim, porque depois de uma crise tonico-clónica a criança pode ficar muito cansada e é normal que adormeça imediatamente após o fim da crise. Neste caso, deve-se deixar o aluno a dormir, recuperando da crise.
É também importante para o professor saber que, durante uma crise tónico-clónica, não se deve tentar abrir ou introduzir quaisquer objectos na boca do aluno em crise, agarrá-lo, deslocá-lo para outro local ou dar-lhe de comer e beber. Contrariamente ao que normalmente se pensa, é muito desaconselhado tentar segurar a língua da pessoa em crise. É quase impossível morder a língua durante uma crise, mas é bastante provável que os dedos de alguém que os puser na boca da pessoa em crise saiam bem magoados…
As crises epilépticas não necessitam de assistência médica, não são emergências. Só se deve chamar uma ambulância em casos muito restritos, como sejam: tratar-se da primeira convulsão de sempre do aluno em questão; caso a convulsão dure mais de dez minutos; caso a convulsão se repita antes de o aluno ganhar consciência ou caso cause feridas ou fracturas.
Depois de uma crise epiléptica é importante avisar os pais e saber descrever bem a crise. Como é que se descreve uma crise? Deve-se tomar nota do que é que a pessoa estava a fazer antes da crise, como é que esta começou, que partes do corpo envolveu, qual a sequência de acontecimentos da crise (por exemplo: primeiro o corpo ficou hirto, depois começou a movimentar-se, os movimentos foram diminuindo de frequência…), quanto tempo durou a crise e como foi o pós-crise.
Quando não está a ter crise, um aluno com epilepsia é como outro aluno qualquer e deve ser tratado como tal. Assim sendo, em princípio, as crianças com epilepsia não têm dificuldades de aprendizagem. Contudo, a doença pode influenciar o aproveitamento escolar do aluno. Por exemplo, as próprias crises perturbam repetidamente a consciência, o que pode levar o aluno a não ouvir parte da matéria. Além disso, no período pós-crise, o aluno pode apresentar sonolência ou confusão. Os medicamentos que as crianças com epilepsia tomam podem ter efeitos na atenção, memória e linguagem, para além de também causarem sonolência. Por outro lado, estas crianças podem ter um absentismo elevado, devido à comparência em consultas, exames, tratamentos ou até mesmo internamentos. Por fim, há factores psicológicos que também podem afectar o aproveitamento, como a ansiedade, insegurança ou até mesmo depressão, muitas vezes causadas por discriminação por parte dos colegas de turma. Cabe também ao professor tentar minimizar esta discriminação, fazendo compreender aos outros alunos que o seu colega é igual a eles, só que de vez em quando sofre crises epilépticas.
É importante não esquecer que a epilepsia ocupa apenas uma pequena parte da vida do aluno em questão e que este tem o direito de crescer, desenvolver-se e aprender, tal como os seus colegas.
Como já foi referido atrás, a epilepsia é uma doença ao nível neurológico e, como tal, tem, principalmente, causas relacionadas com traumatismos no cérebro.
No entanto, existem várias outras causas para a epilepsia, uma vez que basta que esses factores afectem os neurónios ou o modo como estes comunicam entre si. Outras causas também frequentes são: tumores ou abcessos, tromboses ou desequilíbrios químicos.

As Instituições que apoiam doentes epilépticos

Relativamente as instituições que apoiam os doentes epilépticos temos a EPI (associação portuguesa de familiares, amigos e pessoas com epilepsia) e a LPCE (Liga Portuguesa Contra a Epilepsia).
A EPI é uma organização com o estatuto de IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social), obtido em Agosto de 2007, cujos objectivos principais são: promover a saúde, o bem-estar social e a integração socioprofissional e ocupacional de pessoas afectadas pela epilepsia, bem como defender os seus direitos e tentar evitar a discriminação. A EPI esta associada a certos serviços tais como: o GAM (grupos pequenos constituídos por pessoas com epilepsia ou familiares que se reúnem, partilhando sentimentos, opiniões e experiências); a EPI 3C (uma iniciativa que promove a formação de pessoas com epilepsia relativamente à doença, ou seja, tornarem as pessoas conhecedoras (possuírem o máximo de informação sobre a epilepsia), conscientes (dos seus direitos e deveres enquanto doentes) e cooperantes (com os tratamentos e com a sua condição)); as EPI jornadas (realizadas anualmente visam a formação sobre a epilepsia onde são abordadas as vertentes clínica e sociocultural por parte de especialistas); o projecto Escola Amiga (tem como principal objectivo que as escolas do ensino pré-escolar, básico e secundário tenham condições especiais para crianças com epilepsia); encontros regionais (espaços de divulgação, sensibilização e informação sobre a epilepsia para a população em geral e de entrada livre); ainda está ligada ao voluntariado.
A EPI tem vários associados entre os quais a LPCE.
A LPCE é uma associação particular sem fins lucrativos, já existente há mais de vinte cinco anos, com o objectivo de divulgar a epilepsia de modo a desmitifica-la e assim melhorar a qualidade de vida de pacientes com epilepsia. A LPCE tem três delegações regionais, uma no Porto, outra em Coimbra e outra em Lisboa que funcionam como centro de apoio e de informações relativamente à epilepsia. A LPCE possui ainda um seguro de acidentes pessoais para os seus associados na medida em que, devido a natureza da doença (que provoca quedas e afins) as pessoas que sofrem da doença tem dificuldade em encontrar um seguro que ofereça as mesmas regalias que oferecem a pessoas sem a doença. A LPCE tal como a EPI tem em funcionamento grupos de ajuda mútua para pessoas com epilepsia e para familiares dos doentes, um programa de voluntariado (que visa melhorar a qualidade de vida das pessoas epilépticas). Promove ainda o acesso a todo o tipo de informação sobre epilepsia e temas associados através de um congresso a nível nacional (para técnicos relacionados com o assunto), encontros regionais (para a população em geral) e acções de esclarecimento (mais individualizadas), promove também uma publicação periódica que contêm temas de interesse para todos os que são afectados de algum modo pela epilepsia bem como folhetos informativos.
Relativamente aos contactos destas instituições são os mesmos:
 Porto (sede): Av. da Boavista, 1015 6º andar sala 601; Tel. /Fax: 226054959 email: epiporto@epilepsia.pt (EPI), epicentro.porto@oninet.com
 Coimbra: Av. Bissaia Barreto, 268 r/c A 3000-Coimbra; Tel. /Fax: 239482865 email: epicoimbra@epilepsia.pt
 Lisboa: Rua Carlos Mardel, 107-3ºA 1900-120 Lisboa;
 Tel./Fax: 218474798, 21 192 3877 email: epilisboa@epilepsia.pt (EPI), lpcelisboa@epilepsia.pt(LPCE)

Relação com a família


Ao descobrir que um familiar sofre de uma determinada doença ao princípio é custoso, gerando normalmente bastante preocupação por parte dos pais. Por isso mesmo os pais e familiares devem falar com pessoas com formação relativamente à epilepsia (médicos, enfermeiros, técnicos, entre outros) de forma a saberem qual o melhor tratamento, a melhor forma de lidar com o doente e com a situação.
Um dos primeiros passos a ser tomado deve ser o da procura de informação relativa à doença, tentando saber mais sobre a epilepsia e o que fazer quando o familiar tem a doença tem uma crise.
Quando o doente em questão é uma criança, os pais devem falar abertamente com ela sobre o assunto explicando-lhe a situação, porque a maneira como os pais lidam com a doença vai influenciar a maneira como a criança vai interpretá-la e mais tarde como se irá relacionar com outras pessoas.
Normalmente quando os filhos sofrem se epilepsia os pais tendem a ser super-protectores, mesmo quando a epilepsia já se encontra controlada, embora o seu esforço seja bem-intencionado privam muitas vezes as crianças de actividades infantis consideradas normais, pelo medo que sentem que o filho possa ter uma crise epiléptica durante essas actividades, também quando as crianças fazem exercício físico os pais tendem a ter este tipo de comportamento (embora o exercício físico não está normalmente associado às crises, antes pelo contrário diminui a ocorrência de crises). Esta escolha por parte dos pais pode levar a problemas futuros na criança, tais com, baixa auto-estima, isolamento social e provoque uma dependência em relação aos pais. Por isso os pais devem apoiar os seus filhos e evitar a super protecção.
Podemos então concluir que, uma boa relação com a família é um passo importante na forma como os doentes encaram a doença.

Pessoas Conhecidas com Epilepsia

Apesar de tudo, a doença não afecta a criatividade a genialidade da pessoas, não a impede de ser famosa ou reconhecida por uma grande parte da população. De entre as pessoas famosas com epilepsia temos escritores, compositores, actores, matemáticos, físicos, entre outros. A lista seguinte é uma pequena amostras de como esta doença não é contagiosa ou mental, como muitas pessoas pensam:
• Vincent van Gogh – Pintor holandês (1853 – 1890)
• Fyodor Mikhailovitch Dostoiévski – Escritor russo (1821 – 1881)
• Júlio César – imperador romano (100 – 44 a.C.)
• Sócrates – filósofo grego (469 – 399 a.C.)
• Molière – escritor de peças de teatro francês, além de actor e encenador (1622 – 1673)
• Alfred Nobel – Químico, engenheiro, fabricante de armamentos sueco (1833 – 1896)
• Carlos V – rei de França (1338 – 1380)
• Hector Berlioz – compositor francês (1803 – 1869)
• Alexandre Magno, o Grande – rei da Macedónia (356 – 323 a. C.)
• Plutarco – filosofo e prosador grego do período greco-romano (46 – 126)
• Blaise Pascal – filósofo, físico e matemático francês (1623 – 1662)
• Charles Dickens – romancista inglês da era vitoriana (1812 – 1870)
• Pitágoras – matemático grego (570/1 – 496/7 a. C.)
• Niccolò Paganini – compositor italiano que revolucionou a arte de tocar violino (1782 – 1840)
• Henry René Albert Guy de Maupassant – escritor e poeta francês (1850 – 1893)
• George Gordon Byron (Lord Byron) – poeta britânico (1788 – 1824)
• Maomé (Muhammad) – religioso e político árabe. Último profeta de deus do islamismo (570 – 632)
• Santa Teresa D’Ávila – religiosa e escritora espanhola (1515 – 1582)
• Gustave Flaubert – escritor francês e autor de Madame Bovary (1821 – 1880)
• Machado de Assis – escritor brasileiro (1839 – 1908)
• Hermann von Helmholtz – médico e físico alemão (1821-1894)
• Napoleão Bonaparte – imperador francês (1769 – 1821)
• D. Pedro I – imperador do Brasil e rei de Portugal (1798 – 1834)
• Vladimir Ilitch Lenin – revolucionário russo (1870 – 1924)
• Saul – rei bíblico (perto de 1095 a.C.)
• Ian Curtis – vocalista inglês da banda Joy Division (1956 – 1980)
• Margaux Hemingway – actriz americana (1954 – 1996)
• Richard Burton – actor inglês (1925 – 1984)
• Isaac Newton - físico inglês (1643 – 1727)
• Peter Ilyich Tchaikovsky – compositor russo (1840 – 1893)
• Robert Schumann – compositor alemão (1810 – 1856)
• Ludwig van Beethoven – compositor alemão (1770 – 1827)

História e curiosidades

A epilepsia é uma doença conhecida há mais de três mil anos, atravessando culturas e civilizações. Esta até tem sido descoberta em animais filogeneticamente mais antigos que o homem.
No Antigo Egipto, a epilepsia já era representada em papiros e atribuída a entidades maléficas. Estas seriam as responsáveis pela doença, sendo necessárias oferendas e sacrifícios para as apaziguar.
Na Grécia Antiga, os gregos foram os primeiros a utilizar o termo epilepsia (epilhyia que significa surpresa, ser apanhado de repente), pois acreditavam que apenas os deuses seriam capazes de possuir um homem, provocando-lhe os sintomas (queda e convulsões). Também a apelidavam de “doença sagrada” pelos motivos acima referidos. Os portadores desta doença eram colocados em templos e vistos como sacerdotes.
Ainda na Antiga Grécia, por volta de 400 a. C., Hipócrates (pai da medicina) declarou que a causa da epilepsia não eram os espíritos malignos ou os deuses, mas sim o cérebro. Isto porque nesta época, existiam escritos que identificavam o cérebro como o local chave para o entendimento do comportamento humano. Também dizem que Hipócrates poderia ter sido influenciado por Atreya, pai da medicina hindu (que tinha vivido 500 anos antes). Longos anos depois de Hipócrates, apareceu Galeno (129 – 200 d.C.), que fez uma primeira classificação das diferentes formas da doença.
Relativamente aos romanos, designavam a epilepsia como “mal comicial”, porque tinham de suspender os comícios sempre que um dos participantes sofria um ataque, ficando a aguardar um sinal de bom agoiro para recomeçarem o mesmo.
Comparativamente à cultura greco-romana, os hebreus acreditavam que eram as fases da lua que provocavam as crises e se cuspissem sobre um corpo em convulsões, obrigava o demónio a sair do mesmo.
Os árabes também relacionavam o facto de as crianças serem concebidas ou nascerem durante a lua cheia corriam o risco de serem epilépticas.
Ainda hoje se acredita que é da responsabilidade da lua a transmissão da doença. Assim, em determinadas regiões de Portugal, não se deixam as fraldas a secar ao luar, para que os bebes não a contraiam.
Todas as crenças baseadas na “influência lunar” denominavam os doentes de “lunáticos”. Já os que acreditavam na possessão por demónios apelidavam-nos de “maníacos”.
Durante a Idade Média continuou-se a interpretar a doença como concepção sobrenatural ou como uma ligação mental e contagiosa. Para curar este mal, utilizavam-se meios religiosos, nomeadamente, a exorcização dos doentes e benzeduras. A doença tinha sido apelidada pelo povo de “doença das quedas”.
As pessoas portadoras de epilepsia não podiam participar na eucaristia para que não contaminassem ou profanassem o copo e prato da comunhão. A epilepsia era vista como uma maldição, algo que só se desejava aos piores inimigos.
Também foi durante a Idade Média que começou a caça às bruxas. Mais de duzentas mil mulheres epilépticas foram parar à fogueira porque se pensava que a presença de crises era uma característica de bruxas.
Até o período renascentista, a epilepsia, que era descrita como um “mal obscuro”, passou por diversas tentativas mal sucedidas, e muitas vezes cruéis, de cura: consumo de sangue humano de pessoas recentemente mortas, pó de crânio, sangria do paciente, uso extremo de laxantes, indução constante do vômito, e em alguns casos, até a abertura de orifícios no crânio (a chamada trepanação craniana) da pessoa epiléptica. Este último tratamento serviria para libertar o demónio provocador da doença.
No Renascimento e com a Revolução Científica, a anatomia fundamental para o conhecimento do corpo humano passou a ser realmente estudada, com dissecções e observações meticulosas das estruturas. O livro de anatomia "De Humanis Corpora Fabrica", de Andréa de Vesalius, concluído em 1543, é uma das obras mais importantes da história da Medicina e da epilepsia.
René Descarte afirmava, tal com Hipócrates, que esta doença tinha origem no cérebro, isto porque fez vários estudos fisiológicos e anatómicos com animais, investigando exaustivamente o sistema nervoso.
Na mesma altura, Martinho Lutero rogava à Igreja Católica pragas, sífilis, epilepsia, escorbuto, lepra e carbúnculo e denominava a epilepsia como “morbus demoniacus”, ou seja, doença do demónio. Como se pode perceber, a epilepsia era tão desejada como a lepra ou a sífilis.
Durante vários séculos, estas ideias permaneceram na cultura mundial, estando ainda presentes na mentalidade das pessoas, considerando este tema um tabu
Apenas em 1873, o inglês John Hughlings Jackson determinou que o que provocava a epilepsia eram descargas eléctricas da substância cinzenta cerebral.
No final do século XIX, foi criado um hospital, em Londres, “para paralíticos e epilépticos” e foi também nesta altura que apareceram os primeiros tratamentos eficazes para a doença. O primeiro e mais utilizado medicamento para a epilepsia foi o brometo de potássio, descoberto em 1857 por Sir Charles Lokock, parteiro da rainha Vitória.
No ano de 1929, Hans Berger, descobre o electroencefalógrafo (EEG) na Alemanha, que consiste num aparelho que permite registar as correntes eléctricas que ocorrem no cérebro. Este é um aparelho fundamental para o estudo da epilepsia.
Durante o séc. XX, os principais medicamentos utilizados no tratamento da epilepsia foram descobertos, tendo, nos últimos tempos, o tratamento melhorado muito. Para isso contribuiu o surgimento da segunda linha de medicamentos de efeitos comprovados.
Apesar de actualmente já ser possível controlar as crises de epilepsia em crianças e adultos numa taxa de 70 a 80% dos casos diagnosticados, há já alguns anos que a tónica tem vindo a ser posta na qualidade de vida das pessoas que sofrem da doença.
Dizem que uma em cada 20 pessoas têm uma única crise epiléptica em algum momento de sua vida (embora isto não significa necessariamente que eles têm epilepsia) e que uma cada 50 terá epilepsia em algum momento de sua vida (nem todos com epilepsia vai tê-la para a vida). Que cerca de 75 pessoas são diagnosticadas com epilepsia a cada dia e que há mais homens que mulheres com a doença.
Existe um patrono dos epilépticos, que é S. Valentim. Este é representado benzendo os corpos de dois doentes e com um porco, que simboliza o demónio.
Na Bíblia, existe um caso de um jovem epiléptico curado por Jesus. Quem conta a história é Mateus (17: 14-18), Marcos (9: 17-27) e Lucas (9: 38-42). Neste episódio é possível verificar a crença dos hebreus na possessão de demónio por parte do epiléptico, porque Jesus, para curar o jovem diz: “ Espírito mudo e surdo, Eu te ordeno que saias do menino e nunca mais entres nele.” (Mc 9: 25)

Os Sintomas e os tipos de crises

De acordo com a Liga Internacional Contra a Epilépsia (ILAE) as crises de epilépsia podem ser dividídas em dois tipos de crise:
- Crises auto-limitadas;
-Crises Contínuas.
As Crises auto-limitadas são aquelas que terminam de modo espontâneo e que têm uma duração de não mais de aproximadamente 5 minutos.
As Crises Contínuas são aquelas que se prolongam por mais de 30 minutos.
O primeiro tipo de crises ainda é subdividido em outas duas categorias:
- Crises parciais;
- Crises generalizadas.
As Crises Parciais têm a sua origem numa área específica do cérebro (não necessáriamente pequena).
As Crises Generalizadas são aquelas cuja origem envolve em simultâneo os dois hemisférios cerebrais.
As Crises Generalizadas são ainda subdividídas em :
-Crises de ausência – caracterizam-se por um lapso súbito de resposta tão fugaz (normalmente inferior a 10 segundos), que as pessoas em redor nem se apercebem da alteração;
- Crises Mioclónicas - caracterizam-se por contracções musculares súbitas e curtas, provocando um ou mais abalos que perduram durante três a 10 segundos. Estão frequentemente associadas a perturbações metabólicas, doenças degenerativas do sistema nervoso ou a lesão cerebral devido à falta de oxigénio;
- Crises Atónicas - caracterizam-se por perda súbita do tónus muscular, com a duração habitual de um a dois segundos. Se forem de curta duração provocam apenas movimentos adversivos da cabeça, se forem mais demoradas originam a queda do indvíduo afectado;
-Crises Tónico-Clónicas - representam 23% de todas as crises e caracterizam-se por contracções intensas e repetitivas do corpo que podem durar até dois minutos.
O início é geralmente abrupto. O doente torna-se mais rígido e cai no chão com os maxilares apertados (podendo morder a língua), perde o controlo da bexiga e/ou dos intestinos e a pele pode adquirir uma cor azulada devido à falta de oxigénio.
Durante a fase clónica, os músculos contraem-se e relaxam repetidamente, originando movimentos de abalos nas extremidades.
Gradualmente o doente recupera a consciência, mas para se sentir confuso, sonolento, com dores de cabeça e musculares.
As Crises Parciais podem também ser subdivididas em:
- Simples – quando não ocorre perturbação na consciência e o indivíduo que teve o ataque se lembra de tudo o que aconteceu;
- Complexas - quando ocorre perda ou perturbação da consciência.

As causas (origem); Tratamento


As lesões no cérebro podem ser avaliadas através de exames de imagem, como a tomografia computadorizada, mais conhecida como TAC, e o eletroencefalograma, o EEG. Este consiste na captação de actividade eléctrica cerebral através de eléctrodos; estes medem a diferença de potencial entre as várias partes do cérebro. Deste modo, o médico consegue determinar a existência de anomalias. Contudo, este exame deve ser feito durante uma crise ou ataque epiléptico.

Assim que a epilepsia é diagnosticada, é importante começar o tratamento o mais depressa possível. Em média 80% dos casos é possível controlar os ataques.
O grande problema da epilepsia é o facto de os ataques não ocorrerem periodicamente, como tal, o doente tem de se encontrar constantemente sob efeito de medicamentos. Os pacientes podem receber um tratamento à base de monoterapia, o mais recente, ou de politerapia. O primeiro consiste no tratamento da doença por meio de um único medicamento, enquanto que o segundo caso utiliza dois ou mais medicamentos para controlar as crises.
Contudo existem doentes que não podem tomar fármacos, para estes, recorre-se geralmente a uma ou mais cirurgias.