terça-feira, 9 de março de 2010

Epilepsia na escola

Para um professor, uma crise epiléptica de um aluno pode ser um episódio estranho e até mesmo assustador quando não se sabe como reagir. Assim, é de extrema importância que os professores saibam o que fazer antes, durante e após a crise.
Em primeiro lugar, quando há na turma um aluno com epilepsia, os professores devem manter-se em contacto com a família, normalmente através do Director de Turma. Na maioria dos casos, os pais já estão habituados a lidar com as crises do filho e podem indicar a melhor forma de agir caso aconteça uma crise. Por outro, o próprio tipo de crise deve ser descrito pelos pais aos professores, já que é importante que se saiba como costumam ocorrer, para ser possível a detecção de eventuais alterações na forma como se desenrola a crise epiléptica.
De uma maneira geral, os próprios alunos são capazes de descrever como são as suas crises e indicar ao professor como deve agir, caso aconteçam, principalmente quando falamos de alunos do 3º Ciclo e do Secundário, como é o caso dos alunos da Escola Secundária de Miraflores.
Não é só o professor que deve estar preparado para a ocorrência de crises: os colegas de turma devem ser informados da situação, já que algumas crises podem ser assustadoras para os colegas que são apanhados desprevenidos. Assim, recomenda-se que no início do ano lectivo o professor se dirija à turma no sentido de a esclarecer quanto a este assunto. Se se sentir suficientemente à vontade, até é preferível que seja o aluno com epilepsia a esclarecer os colegas quando à sua condição.
Então, que fazer durante uma crise?
Há três pontos importantes dos quais o professor se deve lembrar aquando da ocorrência de uma crise num dos seus alunos: é importante que saiba reconhecer o tipo de crise, que saiba descrever a crise e que saiba actuar.
A resposta que um professor deve ter perante uma crise depende do tipo de crise.
Em crises parciais, não há perda de consciência por parte do aluno. As crises parciais simples manifestam-se através de movimentos involuntários e repetitivos de apenas uma parte do corpo, como a face ou uma mão. Não há nada que possa ser feito neste tipo de crise, sendo que, normalmente, o aluno não precisará de ajuda. Por outro lado, as crises parciais complexas geralmente necessitam de intervenção por parte do professor. Um aluno que esteja a ter uma destas crises pode ficar confuso (embora consciente) e levantar-se, andar, sair da sala, abotoar e desabotoar a camisa, repetir movimentos estereotipados, fechar e abrir gavetas. Como mantém a consciência durante a crise, esta pode ser uma experiência aterrorizadora para que a sofre. Deste modo, o professor deve manter a calma, procurar proteger a criança, ignorando possíveis automatismos e adoptando uma atitude tranquilizadora e compreensiva. Deve ser evitada confrontação ou contenção física, contudo, o professor deve assegurar que o aluno não sai da sala nem corre riscos.
Nas crises generalizadas existe perda de consciência. Um tipo pouco conhecido de crises epilépticas é a crise de ausência. Numa crise de ausência, o aluno parece distraído, não fala nem responde a perguntas ou conversas. Parece que “não está cá”, ou “está com a cabeça na lua”. Como há perda de consciência, o aluno não se lembra do que passou nos segundos em que durou a crise. Numa situação de sala de aula, a perda de consciência do aluno resulta na perda de partes do discurso do professor. E o pior é que o professor pode nem dar pela ocorrência da crise, confundindo-a com distracção, já que esta não tem manifestações físicas, a não ser a incapacidade do aluno de responder a qualquer estímulo. Assim, caso se saiba da existência de um aluno que costume ter crises deste tipo, o professor deve assegurar-se que a criança não perde os elementos-chave da aula, repetindo a matéria as vezes que forem necessárias. Além disto, não é precisa qualquer intervenção.
As crises tonico-clónicas são as mais conhecidas. Quando pensamos num ataque epiléptico, surge-nos logo a ideia de uma pessoa sem controlo dos movimentos do seu corpo, esbracejando e salivando. Isto é mais ou menos a descrição de uma crise tónico-clónica. Estas crises precisam de intervenção por parte do professor.
Em primeiro lugar, deve-se manter a calma. Entrar em pânico só vai fazer com que o resto da turma se assuste e no meio da confusão alguém pode ficar magoado. O aluno em crise deve ser protegido. Isso implica afastar cadeiras e mesas do sítio onde está o aluno e apoiar a sua cabeça, para que não bata no chão com os movimentos da crise. O aluno deve ser deitado de lado durante a crise e, para seu conforto, devem ser aliviadas as roupas que estejam apertadas e limpa a saliva. As crises podem durar alguns segundos ou até minutos, que, no meio da aflição, parecem muito tempo. Assim, o professor não se deve esquecer de tranquilizar o resto da turma, não deixando de acompanhar o aluno em crise até que ganhe consciência. Se for possível, até pode ser um aluno responsável a acompanhar o seu colega. Depois da crise terminar, é importante conversar com a criança afectada, quando esta acordar. Sim, porque depois de uma crise tonico-clónica a criança pode ficar muito cansada e é normal que adormeça imediatamente após o fim da crise. Neste caso, deve-se deixar o aluno a dormir, recuperando da crise.
É também importante para o professor saber que, durante uma crise tónico-clónica, não se deve tentar abrir ou introduzir quaisquer objectos na boca do aluno em crise, agarrá-lo, deslocá-lo para outro local ou dar-lhe de comer e beber. Contrariamente ao que normalmente se pensa, é muito desaconselhado tentar segurar a língua da pessoa em crise. É quase impossível morder a língua durante uma crise, mas é bastante provável que os dedos de alguém que os puser na boca da pessoa em crise saiam bem magoados…
As crises epilépticas não necessitam de assistência médica, não são emergências. Só se deve chamar uma ambulância em casos muito restritos, como sejam: tratar-se da primeira convulsão de sempre do aluno em questão; caso a convulsão dure mais de dez minutos; caso a convulsão se repita antes de o aluno ganhar consciência ou caso cause feridas ou fracturas.
Depois de uma crise epiléptica é importante avisar os pais e saber descrever bem a crise. Como é que se descreve uma crise? Deve-se tomar nota do que é que a pessoa estava a fazer antes da crise, como é que esta começou, que partes do corpo envolveu, qual a sequência de acontecimentos da crise (por exemplo: primeiro o corpo ficou hirto, depois começou a movimentar-se, os movimentos foram diminuindo de frequência…), quanto tempo durou a crise e como foi o pós-crise.
Quando não está a ter crise, um aluno com epilepsia é como outro aluno qualquer e deve ser tratado como tal. Assim sendo, em princípio, as crianças com epilepsia não têm dificuldades de aprendizagem. Contudo, a doença pode influenciar o aproveitamento escolar do aluno. Por exemplo, as próprias crises perturbam repetidamente a consciência, o que pode levar o aluno a não ouvir parte da matéria. Além disso, no período pós-crise, o aluno pode apresentar sonolência ou confusão. Os medicamentos que as crianças com epilepsia tomam podem ter efeitos na atenção, memória e linguagem, para além de também causarem sonolência. Por outro lado, estas crianças podem ter um absentismo elevado, devido à comparência em consultas, exames, tratamentos ou até mesmo internamentos. Por fim, há factores psicológicos que também podem afectar o aproveitamento, como a ansiedade, insegurança ou até mesmo depressão, muitas vezes causadas por discriminação por parte dos colegas de turma. Cabe também ao professor tentar minimizar esta discriminação, fazendo compreender aos outros alunos que o seu colega é igual a eles, só que de vez em quando sofre crises epilépticas.
É importante não esquecer que a epilepsia ocupa apenas uma pequena parte da vida do aluno em questão e que este tem o direito de crescer, desenvolver-se e aprender, tal como os seus colegas.
Como já foi referido atrás, a epilepsia é uma doença ao nível neurológico e, como tal, tem, principalmente, causas relacionadas com traumatismos no cérebro.
No entanto, existem várias outras causas para a epilepsia, uma vez que basta que esses factores afectem os neurónios ou o modo como estes comunicam entre si. Outras causas também frequentes são: tumores ou abcessos, tromboses ou desequilíbrios químicos.

1 comentário:

Anónimo disse...

se o professor repreender verbalmente um aluno bagunceiro, ou discutir por uma penalidade que o aluno não aceite sofrer, como uma falta por não estar presente em sala, e este sofrer uma crise epileptica, o professor pode ser responsabilizado de alguma maneira?

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